Relato de uma atividade do CMI num Centro Comunitário da periferia

Pra garantir a segurança do trabalho comunitário alterei os nomes das pessoas e dos locais. de resto mantive o relato original que enviei pro coletivo sampa.

Domingo, 13 de maio de 2007

Hoje, às 18hs, fui participar da atividade no Centro Comunitário Cultural e
Esportivo Cruz das Almas. O CMI foi convidado pra participar de uma atividade e mesmo afastado parcialmente do coletivo me disponibilizei a ir, pois conhecia um pouco o pessoal da comunidade. Pra não ir sozinho escalei dois camaradas que me ajudarma muito: o Flávio Punk e o Luís. Recebi poucas informações do que iria fazer lá, então no inicio da semana liguei pro "Djow"
(cara que coordena o espaço) e fiquei sabendo que a atividade era uma projeção do
filme Pixote. Ele não disse claramente o que um voluntário do CMI faria
por lá, mas resolvi ir já que o coletivo havia se comprometido. Falei pra ele que
iria levar o projetor e que ele podia dispensar a tevezinha, disse pra
anunciar que era "cinema" hahaha.

Cheguei no local e encontrei um galpão enorme no centro de uma praça, sem
energia elétrica e sem água, com o Djow terminando de fazer o gato pra puxar
energia pras lâmpadas e pra projeção. Tudo bem humilde, sem muita
organização. Foi uma atividade estranha, tinha muita criança e vários adolescentes. Não era o público de movimentos sociais ou estudantil que estou acostumado.
Diante da espontaneidade da parada não vi muito o que fazer a não ser instalar o
data-show e trocar uma idéia com quem colava junto, incluindo as crianças
que perguntavam se eu ia passar o filme do "zé pequeno". Descobri que a
maioria das crianças que estavam lá passam a semana numa avenida movimentada de sampa,
fazendo malabares e pedindo trocado. Com certeza deve ter gente pensando que são menores de rua, mas na verdade só tão fazendo uma correria pra descolar uma grana a mais.

Bom, mesmo pra dia das mães e divulgação/organização deficitária a
atividade parece ter tido bastante sucesso. Tinha em torno de 50 pessoas e
o Djow conseguiu uns refris e dois sacos de pão pra distribuir no final do filme. O povo
assistiu a parada e ficou bem feliz (apesar do filme ser bem barra pesada).
Depois da projeção, lá pelas 22:00, eu, o Djow, meus "assistentes" e os
mais velhos fomos pra uma quadrinha lá perto e ficamos conversando sobre
o filme e sobre a comunidade. Não foi um debate formal, mas a conversa foi
looonge. Em determinado momento estávamos olhando uma favelinha que fica
perto da quadra e um deles disse: "essa favela tah crescendo do jeito
certo, de pouco em pouco e sem chamar a atenção" hehehe, achei do caralho
essa observação. Percebi que o bairro inteiro nada mais era que uma ocupa
sem movimento politico.

No final me coloquei a disposição de passar mais filmes e ajudar a
organizar melhor esse tipo de atividade. Também acho que é uma boa passar
filmes como forma de conhecer os movimentos do Bairro. Vo resumir alguns
pontos importantes:

1) O local era um galpão abandonado que foi ocupado pelo Djow e uns
skatistas 7 anos atras. Já rolaram diversas atividades no galpão, e volta
e meia aparece politico ou grupo X falando que vai fazer e acontecer e
depois de seis meses some. A gestão da marta tentou coopta-los e como não
conseguiu tiraram a luz e a agua antes da gestão petista acabar. desde
então o local é ocupado informalmente por diversas organizações, mas o
grande articulador aparentemente é o Djow.  Pra vocês terem uma idéia o galpão fica na
praça principal da comunidade e não tem chave, só a sala da bilioteca é
trancada, o resto é sem tranca e fica a maior parte da semana largado e sem
atividade. Mesmo assim o povo respeita e não zoa o lugar, no maximo joga
uma bola lá dentro em dia de chuva ou andam de skate. Droga lá dentro?
Nem pensar! Os skaters te quebram se você profanar a parada.

2) A turma do Djow, que organizam uma biblioteca popular dentro do espaço,
tem várias idéias pra organizar a população pra autogestão popular.
Falaram muito sobre geração de renda, feira de trocas e formação política,
mas não sabem muito bem como fazer isso virar realidade. Em diversos
locais tem frases como "organizar o poder popular", "fora partidos" etc
etc. Atualmente, eles fazem atividades de domingo que visam capacitar uma
galera pro artesanato. Porém, diversas organizações usam o espaço. Tem gente de moradia, da igreja e outras atividades como dança.

3) Teve uma hora que a galera tava empolgada falando da biblioteca e eu
perguntei: "mas o povo aqui vai na biblioteca?" e eles responderam rindo:
"eles não têm muita opção; aqui é igreja, TV, buteco ou nóis".

André Takahashi taka@riseup.net 

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4 Responses to Relato de uma atividade do CMI num Centro Comunitário da periferia

  1. Frederico says:

    Estou fazendo a mesma coisa! Em Curitiba o projeto se chama CineCRU, é uma fusão do acervo do FELCO + filmes do CMI + Filmes descentes + alguns trechos de programas de TV. Inicialmente era para ser nos colégios, mas já rolou em exibir filme e fazer debate até em salão de cabelereiro. O método usado é baseado no telacritica.org, seguindo algumas temáticas como luta popular, moradia, democracia e etc. Estou fazendo uma dinâmica para falar das greves, são 2 desenhos um do Bob Esponja e outro do Simpsons quando o Homer vira líder sindical e organiza uma greve.

  2. legume says:

    eu acho que cmi e mpl deviam começar um trabalho conjunto lá;

  3. alexzapa says:

    Porra vei! q massa! É aquela coisa q rola no CMI…não temos muito contato permanente e estrutural com alguma comunidade. Tlvz aki em Fortal role dagente chegar numa radio comunitaria de uma comunidade. TEm um compas nosso fazendo um trabalho lá já. AE taka, leva isso adiante véi. Já deu uma lida em Paulo Freire ? faloww

  4. teste says:

    teste 1

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