Elites brasileiras não toleram dissidência

No dia 18-04-2007, o atual diretor da minha faculdade (Escola de Sociologia e Política) professor Aldo Fornazieri, deu uma entrevista bombástica no Estadão. Bombástica porque ele defendeu, publicamente, e num jornal da direita, as ações diretas do MST; bombástica porque sei que ele é muito respeitador das leis burguesas. Pra vocês terem uma idéia o Aldo é um Getulista ferrenho!!! Até hoje me lembro da aula que ele deu sobre Getúlio e converteu uns dez da minha sala, hahahhaa.

Apesar das divergências políticas que tenho com o Aldo suas aulas foram muito inspiradoras, eu sempre saía pensativo, e até meio deprimido. Era sempre um tapa na cara, um banho de realidade política brasileira. Quando fiquei sabendo dessa entrevista não me surpreendi com o conteúdo, pois já sabia de sua opinião a respeito da ação direta pacífica; fiquei impressionado com a repercurssão entre a direita e os conservadores. Uma pequena amostra disso podemos ver no blog do Reinaldo Azevedo ( http://veja.abril.com.br/blogs/reinaldo/ )

O tal Reinaldo Azevedo simplesmente ficou louco com as declarações do Aldo, e chegou ao absurdo de chamá-lo de "marxista", "ultra-esquerdista" e "revolucionário de gabinete", hahahahha. Aldo valeu por defender suas opiniões mesmo sabendo que muitos iriam criticá-lo. Temos nossas divergências, mas o respeito muito e suas aulas sempre farão parte da minha vida.  Abaixo estarei colocando a entrevista pra quem quiser dar uma lida.

Favorável à atuação do MST, o diretor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, Aldo Fornazieri, situa em um contexto histórico de lutas pela terra as ações do movimento. Para o cientista político, os movimentos sociais, às vezes, transitam por posições consideradas ilegais em termos jurídicos, mas justificáveis por conta da luta. 'O que não pode é haver uma extrapolação absurda ou violência desmedida como no episódio da depredação do Congresso, ocorrida no ano passado, mas alguma extrapolação sempre haverá', afirmou. Se a legalidade formal fosse a regra, para Fornazieri, a República não seria proclamada, uma vez que a legalidade estaria do lado do Império. FornazieriAldo Fornazieri concedeu uma entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, 18-04-2007. expõe, na entrevista a seguir, um ponto de vista diferenciado sobre a questão.

Eis a entrevista.

Como explicar a tática do MST, em nível nacional, de liberar pedágios e fechar rodovias para protestar?

Liberar pedágios, desde que eles não sejam depredados, faz parte da natureza da ação do movimento. Claro que fere a lei, no aspecto formal, mas todo movimento social tem um quê de extrapolação, que não pode chegar à violência injustificada. O ideal é que o movimento se mantenha em um nível de manifestação que não fira gravemente o direito alheio. Acredito, no entanto, que este tipo de ação tem o objetivo de angariar a simpatia da população.

E a invasão de fazendas, em sua opinião, também integra este conceito?

Sem dúvida. Ocupar áreas está na natureza do movimento que luta pela reforma agrária. No entanto, se a autoridade judicial determinar a saída das famílias, o MST e seus congêneres têm obrigação de atender à ordem.

O MST diz que as ações visam lembrar o massacre de Eldorado dos Carajás, há 11 anos. Essa poderia ser uma ação justa, em sua visão?

Aquele foi um massacre horrível, em que integrantes do movimento foram mortos pela PM paraense de forma autoritária, sem possibilidade de diálogo, e deve ser lembrado sempre.

O que significa, de uma maneira geral, a ação do MST?

Significa que as elites brasileiras, ao contrário das de outros países, como os EUA, não aprenderam a conviver com a dissidência. Nos EUA, com elites mais lúcidas, as lutas populares se transformaram nas batalhas pelos direitos civis. Aqui, ao contrário, a questão social sempre foi considerada questão de polícia. O Brasil jamais resolveu seu grave problema agrário.
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