Artigo retirado do site "Mudar de Vida".
Um paraíso de mercenários
João Bernardo –
Quarta-feira, 2 Janeiro, 2008
O arquipélago de Fiji fica situado no Oceano Pacífico, ao norte da Nova
Zelândia e a leste da Austrália. Pelas fotografias é um daqueles
paraísos das agências turísticas, areia branca, coqueiros, sereno mar
azul, montanhas verdes, senhoras com flores no cabelo e cavalheiros
atléticos.
Quando as autoridades britânicas abandonaram o arquipélago e o país se
tornou independente, em 1970, as forças militares montavam a cerca de
200 homens, mas a participação nas operações de paz − são assim
chamadas, não sou eu que lhes chamo − no Líbano e no Sinai implicaram
que em quinze anos os efectivos militares de Fiji aumentassem dez
vezes.
Desde
a independência, este país com menos de um milhão de habitantes já
enviou entre 20.000 e 25.000 homens para as missões militares da ONU.
Além disso, um bom número de antigos militares exerce funções em
algumas das empresas de mercenários que constituem hoje a segunda maior
força de ocupação no Iraque. E assim um exército que antes não tinha
qualquer expressão transformou-se na principal instituição do país.
Em 1987 ocorreram em Fiji dois golpes militares e em 2000 um esquadrão
de elite apoiou uma tentativa fracassada de golpe de Estado, mas desde
o final de 2006, após novo golpe, desta vez com êxito, o país tem
vivido sob um regime militar. E as ameaças da União Europeia de
decretar sanções económicas têm pouca eficácia quando se sabe que a
participação nas missões militares da ONU é uma importante fonte de
rendimentos, não só para o orçamento de Fiji mas também, o que neste
caso não é de desprezar, para os bolsos dos militares.
De onde concluo que operações de paz no estrangeiro podem converter-se em operações de guerra dentro de um país.