Marina Silva e a narrativa de telenovela como estratégia de cooptação política

31/07/12

Assunto do momento no movimento ambientalista brasileiro: Marina Silva carregando a bandeira olímpica na abertura dos jogos e representantes do governo brasileiro agindo como vilões de novela. Paralelamente, a audiência vibra com os recortes da mídia mostrando a deselegância e inveja dos vilões e de sua “chefa”, e a firmeza moral e sensibilidade da heroína. Praticamente o bem contra o mal… Será?

“Nós vamos fazer muito melhor. Vamos levar uma escola de samba e abafar” disse Dilma Roussef como foi reproduzido por diversos veículos de comunicação brasileiros. Porém, esta não foi uma resposta à presença de Marina Silva na abertura dos jogos olímpicos como alguns foram sugestionados a pensar, mas uma resposta política (tosca, mas política) a respeito dos jogos no Brasil, que será o próximo país sede.  Sobre a presença de Marina, uma leitura minimamente atenta mostra que a resposta foi mais diplomática:“É um orgulho para nós. Eu não sabia, não preciso saber de tudo”, afirmou, admitindo não ter sido informada sobre o convite do COI à ex-ministra e ex-candidata presidencial. Não que Dilma tenha realmente gostado da surpresa, mas em nenhum momento manifestou publicamente o contrário.

Fora isso, ocorreram falas de Aldo Rebelo – recém-convertido ao ogrismo ruralista – insinuando uma proximidade da Marina com as monarquias européias, deixando subentendido que mais uma vez os maléficos interesses transnacionais tentam sabotar o governo “democrático e popular”. Outra fonte da mídia foi um suposto ministro – que prefere se manter anônimo – “vazando” o choque de Dilma e sua equipe com a presença da Marina. Tudo isso devidamente recortado e ressaltado pela mídia hegemônica, mais uma vez cumprindo seu papel patriótico de fiscalizar o governo (principalmente os governos petistas, que apesar de fazerem o jogo das elites ainda não agradam os setores mais conservadores que controlam a mídia).

Em seguida, dentro do pior espírito competitivo que os jogos olímpicos poderiam promover, ambas as torcidas (marineros e petistas) se engalfinham na internet com comentários que não problematizam nada do ocorrido, do papel do comitê olímpico, do modelo de desenvolvimento brasileiro, do impacto nefasto dos megaeventos (incluindo aí as Olimpíadas no Brasil), pelo contrário: as torcidas seguem a risca o script imposto pela mídia hegemônica, uma luta do bem contra o mal, da mocinha modesta e bem vista por todos contra a vilã poderosa e autoritária. Com este foco maniqueísta qualquer debate sério sobre o modelo de desenvolvimento brasileiro  passa despercebido.

Um rápido passeio no facebook e twitter mostra o tom do debate entre os marineros:

“Esperamos que a elegante e marcante presença da Marina tenha compensado os desastrosos comentários do Sr. ministro Aldo Rebelo e das infelizes palavras da nossa presidenta Dilma.” 

“Foi muita besteira da Dilma dizer que vai abafar com a escola de Samba. Essas frases do PT viraram praxe diante de diversas situações em que os outros são melhores que eles . Eles sempre se acham os Fodões . Meu voto eles não terão ! Que tal investir em Atletas daqui para frente … ?!”

“Aldo Rebelo deve sonhar em ser uma nova encarnação de Stalin…jamais tolera alguém mais inteligente e preparado que ele…é um imbecil!!”

“Não tinham a honradez e a postura da Marina Silva! Pura inveja!”

“Parabéns Marina você merece!!!!!!”

Já os simpatizantes do governo federal não ficam atrás no quesito tietagem sem reflexão, mas não vou reproduzir seus comentários porque meu foco é analisar a reação da base marinera. Eu, sinceramente, estava querendo ficar fora disso, dessa discussão toda, até me empolguei quando vi a Marina na abertura e desanimei logo em seguida vendo o oportunismo da mídia e a histeria de ambas as torcidas.

Porém, hoje me deparei com diversos perfis e páginas do marinismo reproduzindo um Desde 2009 a mídia hegemônica tenta cooptar o marinismo
artigo da Miriam Leitão, do jornal O Globo, com o título “MUITO MAIS QUE DESCORTÊS”. Um artigo que potencializa o conflito petistas x marineros como matéria prima da narrativa “bem x mal”, denunciando os vícios autoritários por parte do petismo e seus aliados (como se autoritatismo fosse monopólio do PT). Ou seja, Miriam Leitão usa o fato político criado pela presença da Marina para requentar o discurso de sempre da oposição de direita ao governo petista. E pior: os marineros e os petistas caíram como patinhos nesse jogo, se engalfinhando do jeito que a direita gosta. O que poderia ser um fato para reacender a discussão sobre o Código Florestal, megaventos e modelo de desenvolvimento foi direcionado pela mídia hegemônica (com ajuda consciente e inconsciente de marineros e petistas) para uma narrativa rasa com viés eleitoral.

Miriam Leitão é um notório nome das organizações globo, especializada em tecer críticas ao governo federal e a qualquer ação que bata de frente com os interesses das elites brasileiras. Esse símbolo do articulismo político da direita foi divulgado aos quatro cantos do mundo através dos veículos de mídia marineros, pelo menos os não-oficiais. Isso me preocupou, e muito!

É perceptível que os simpatizantes, militantes e ativistas de ambas as forças políticas estão servindo de massa de manobra da mídia hegemônica. O rumo que a polêmica tomou não favorece a discussão do bem comum, apenas reforça os interesses da nossa elite e da disputa de poder latente em ambos os blocos, marineros e petistas. E o pior, tendo como avalista e juiz a mídia hegemônica conservadora, que visivelmente atua para cooptar o bloco marinero e sua força eleitoral comprovada nas eleições de 2010.

Marina até tentou minimizar a polêmica dando uma entrevista ao Estadão, mas errou o foco ao responder dentro da versão que foi recortada e divulgada pela mídia. Ao responder a pergunta sobre a reação do governo brasileiro o que importava era a opinião oficial da Dilma. O comentário infeliz de Aldo Rebelo e das fontes anônimas divulgadas pela mídia deveriam ter sidos solenemente ignorados, dando ênfase ao reconhecimento do seu histórico na luta ambientalista e problematizando o modelo de desenvolvimento brasileiro. Essa sim deveria ter sido a polêmica, o fato político em torno do modelo de desenvolvimento, e não uma trama de inveja e fofocas como a mídia disseminou.

Todo esse episódio, que foi conduzido como uma narrativa de telenovela, mostra que o campo político pela sustentabilidade precisa se blindar contra manipulações rasas dos veículos de mídia. É urgente a construção de uma estratégia para a formação histórico-política dos membros desse campo. O fato de seus simpatizantes, ativistas e lideranças reproduzirem automaticamente um texto de Miriam Leitão, seus argumentos, e agirem como uma torcida organizada de futebol, mostra que temos uma multidão de descontentes, mas com uma análise de conjuntura deficiente e pouca formação política. Pouca formação política, num primeiro momento, é uma oportunidade para criar algo novo, sem vícios; mas também é uma fraqueza que pode ser utilizada pela direita brasileira, sedenta por um nome inovador que se contraponha ao bloco político petista e defenda integralmente seus interesses nada inovadores.

Ao contrário do que muitos devem estar pensando eu não sou petista, tão pouco sou marinero, mas tenho consciência que a luta política do ambientalismo brasileiro passa, inevitavelmente, pelo bloco político pela sustentabilidade liderado por Marina Silva. É preocupante notar a mídia hegemônica conservadora, incubada durante o regime militar, ligada aos interesses ruralistas e desenvolvimentistas, sinalizando aproximações com Marina através de matérias simpáticas à sua pessoa como nesse episódio das Olimpíadas.

Essa estratégia segue uma lógica perversa de criação de dependência e despolitização do discurso. Utiliza-se a narrativa moralista de telenovela para criar uma história rasa e de fácil compreensão em torno de uma figura identificada como liderança heróica e sensível, que venceu na vida através do trabalho e do estudo. Vale ressaltar que essa tentativa de cooptação da Marina não é de hoje, mas um processo que a mídia hegemônica desenvolve desde sua saída do PT em 2009. É um grande esforço que visa afastar Marina dos movimentos sociais organizados (deixando-os a mercê do PT e da esquerda clássica) e aproxima-la cada vez mais de setores da elite e da classe média, especialmente a classe média desorganizada que é mais suscetível à manipulação midiática.

Se Marina morder a isca e apostar na proximidade estratégica com a mídia hegemônica, deixando em segundo plano o trabalho de base; a criação de redes via internet; o diálogo com movimentos sociais e a formação política em escala, ela estará assinando o atestado de morte de sua autonomia e de qualquer inovação que possa surgir no seu campo político. Essa opção estratégica dá muitos frutos midiáticos no curto prazo, mas no longo prazo cria uma base política com a mesma durabilidade de uma novela; até o poder midiático e sua audiência desorganizada decidirem pelo seu fim de acordo com os níveis de audiência e conveniência.

André Takahashi é sociólogo e ativista do Movimento Brasil pelas Florestas

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Queda do muro…

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Novidades econômicas no front bolivariano

Dando uma lida nas últimas novidades economicas dos países bolivarianos selecionei algumas noticias bem interessantes. Destaco a que fala sobre o SUCRE, moeda comum dos paises bolivarianos; o artigo sobre complementaridade economica na Bolívia e o projeto energético entre Cuba e Venezuela.

LA COMPLEMENTARIEDAD ECONÓMICA: LA MEJOR VÍA AL DESARROLLO ANTES QUE LA COMPETITIVIDAD

http://www.alternativabolivariana.org/modules.php?name=News&file=article&sid=5547

Refinería cubano-venezolana cerca de procesar 40 millones de barriles 

http://www.aporrea.org/venezuelaexterior/n145729.html

Complejos agroindustriales de PDVSA Agrícola presentan 25 % de avance 

http://www.aporrea.org/actualidad/n145706.html



Firmarán documento constitutivo del Sucre en VII Cumbre ALBA

http://www.aporrea.org/internacionales/n143963.html

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CESARE MORTO? CESARE LIVRE! Debate em Solidariedade

 

Cesare Livre! Debate 24/11 – 18h 30

 

O
que está aqui em causa não é só o destino de um homem que desde há
quase trinta anos tem sido um perseguido em redor do mundo. Não é só a
memória de uma geração de combatentes que nas décadas de 1960 e 1970
conseguiu ameaçar a solidez de todos os tipos de capitalismo.

Nem
só a questão de saber se a política interna do Brasil pode ser ditada
por chancelarias estrangeiras. O que está sobretudo em causa é
afirmação do direito de combatermos a exploração e a opressão, aqui e
agora.

O Comitê de Solidariedade a Cesare Battisti vai organizar
no próximo dia 24 de Novembro (terça-feira), no auditório do Sindicato
dos Jornalistas de São Paulo [*], às 18h30 (horário de Brasília/BR), o
debate em solidariedade Cesare morto? CESARE LIVRE!

Participarão
dois membros do Comitê de Solidariedade, que farão um relato da
situação, e representantes de movimentos sociais, sindicatos e partidos
de esquerda. O debate será transmitido ao vivo/em directo, aqui, no
Passa Palavra.

De nosso empenho pode depender o êxito da luta contra a extradição de Cesare.

Comitê de Solidariedade a Cesare Battisti e Passa Palavra

[*] Rua Rêgo Freitas, 530 – Sobreloja – Centro – SP. Próximo ao Metrô República.

 

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Oficinas Faça Você Mesmo no Ay-Carmela

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Ay Carmela: Pablo falará sobre cartografias políticas e cartografias cidadãs

 

 

Pablo (espanha) integrante do Indymedia Estrecho e do hackitectura falará sobre cartografias políticas e cartografias cidadãs.

CARTOGRAFÍA COMO ACTIVISMO GLOBAL

Los mapas son herramientas no neutrales
e imprescindibles para transformar la realidad. Históricamente han
servido, por ejemplo, para planificar la conquista militar o para
promover la explotación turística de ciudades y territorios. O como en
el caso de la invasion de Iraq, para manipular la mente de la poblacion
con un mapa falseado
de Oriente Medio.

En un periodo reciente el arte de la
cartografía, en un proceso de abajo a arriba, ha sido apropiado por los
movimientos sociales e iniciativas ciudadanas para la consecución de su
propia agenda, a veces opuesta a los estamentos del poder.

Compartiremos el uso activista de la
cartografia a partir de los ideas de Deleuze y Guattari de cartografia
como Rizoma y cartografia como Maquina, a traves de dos experiencias
concrettas

La Cartografia del Estrecho de
Gibraltar en la frontera Sur de Europa realizada en 2004 por parte de
la red de Indymedia Estrecho: aqui.

La iniciativa de base
libanesa-palestina Solidarity Maps, que produce mapas sobre la
ocupacion en Palestina visibilizando la asimetria en el uso de la
fuerza por las partes: aqui.

A palestra será em espanhol.

A atividade será gratuita.

Espaço Ay Carmela!
Rua dos Carmelitas, 140 – Sé São Paulo / SP

(Travessa da Rua Tabatinguera / Saída Poupatempo do Metro Sé)

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Até onde pode chegar a arrogância do ser humano?

Deixo para cada um julgar por si próprio…

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Formação de Orientadores de Leitura

Curso gratuito

 

A
Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo, por meio do Programa São
Paulo: Um Estado de Leitores, gerido pela Poiesis – Associação dos
Amigos da Casa das Rosas, da Língua e da Literatura, em parceria com a
Fundação Volkswagen e o Cenpec (Centro de Estudos e Pesquisas em
Educação, Cultura e Ação Comunitária), iniciará uma nova turma do
projeto “Entre na Roda”, que capacita orientadores a formar novos
leitores, a despertar o hábito da leitura e a dinamizar as bibliotecas,
salas de aula e espaços comunitários de leitura já existentes.

O
curso “Entre na Roda” é destinado a bibliotecários, professores,
educadores e interessados já atuantes ou com intenção de atuar como
orientadores de leitura em suas comunidades.

A nova turma terá início em 2010, com 40 vagas disponíveis.

A
participação é gratuita e a formação contempla material didático para o
participante, certificação e um baú de livros para cada instituição
representanda, além de acompanhamento, pelo Programa São Paulo: Um
Estado de Leitores, das atividades e projetos realizados pelos alunos.

            Para
participar da seleção da turma, é imprescindível o comparecimento à
apresentação do curso no dia 7 de dezembro, às 14h, no Museu da Língua
Portuguesa: Praça da Luz, s/n – Centro – São Paulo (SP). O interessado
deverá também, antes da data da apresentação, preencher e enviar a
ficha de inscrição. Informações podem ser solicitadas pelo e-mail: contato.spel@poiesis.org.br ou pelo telefone: (11) 3331-5549.

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Carta de D. Anita Leocádia Prestes em favor de Cesare Battisti

Carta de D. Anita Leocádia Prestes em favor de Cesare Battisti

Antonio Arles

Exmo. Sr. Presidente da República
Luiz Inácio Lula da Silva.

Na qualidade de filha de Olga Benário Prestes, extraditada pelo
Governo Vargas para a Alemanha nazista, para ser sacrificada numa
câmera de gás, sinto-me no dever de subscrever a carta escrita pelo Sr.
Carlos Lungarzo da Anistia Internacional (em anexo), na certeza de que
seu compromisso com a defesa dos direitos humanos não permitirá que
seja cometido pelo Brasil o crime de entregar Cesare Battisti a um
destino semelhante ao vivido por minha mãe e minha família.

Atenciosamente,
Anita Leocádia Prestes

Carta a que D. Anita Leocádia Prestes faz referência:

São Paulo, 14 de novembro de 2009

Excelentíssimo Senhor Presidente do Supremo Tribunal Federal do Brasil

Dr. Gilmar Ferreira Mendes

Prezado Senhor:

Escrevo a Vossa Excelência na simples condição de alguém que milita
em defesa dos Direitos Humanos desde a adolescência, que passou por
várias seções da Anistia Internacional, foi voluntário do ACNUR e da
Justiça e Paz.

Não sou membro de nenhum partido político ou seita religiosa, não
sou eleitor no Brasil nem em meu país de origem, não recebo dinheiro da
Itália, nem de grupos terroristas. Conheci Battisti esta semana; antes
que recebesse refúgio, nunca tinha ouvido falar dele nem no grupo a que
pertencia. Tampouco tenho interesse intelectual ou profissional no
caso: sou um cientista e não advogado, jornalista ou político. O que me
move a empenhar‐me nesta causa são o sentido de solidariedade, minha
visão ética da vida e, também, a vergonha que me produz pensar que
possa viver sob instituições nas quais se pratica linchamento. Embora
tenha uma firme ideologia pessoal, repudio igualmente aos neofascistas
italianos que perseguem Battisti e aos pseudo‐esquerdistas que se
enrolam na causa do revanchismo e a “vendetta”.

Acompanhei muitos casos em minha condição de membro de AI, e vi
pessoas liberadas por um STF diferente: vi a liberação de Fernando
Falco, na qual participei ativamente, e a do padre Medina, em cujo
apoio apenas pude redigir algumas cartas. Antes disso, soube da
extradição de Mário Firmenich, que foi correta.

Minha atividade em favor dos DH não foi apenas a de preencher
papéis. Na década de 70 protegi refugiados do Cone Sul, vítimas da
Operação Condor, com grave perigo para mim e minha família. Na década
de 80 participei na resistência contra o Operativo Charlie no México e
na América Central. Por tudo isso, não tenho nenhum embaraço em assumir
que me sinto plenamente qualificado para exigir justiça para Battisti.

Não estou pedindo clemência. Este é um termo teológico. O extraditando merece justiça.
Em meus anos de militância conheci dúzias de vítimas da repressão e
posso afirmar que é relativamente fácil, nessas condições, reconhecer a
têmpera de alguém. Bastou estar uma hora com Cesare Battisti para
perceber que ele tem enorme coragem, o oposto exato de seus inimigos,
que se movem nas sombras, protegidos pelo poder. Posso me equivocar,
mas me parece certo que Battisti não poderá ser amedrontado, como não
foram amedrontados Nicola Sacco, Bartolomeu Vanzetti, Joe Hill, Ethel
Rosenberg, Dreyfus, Olga Benário, e muitos outros.

Não vou dizer a VE que a história nos julgará: a história é longa e
talvez só mude muito tempo depois que se acabe a única vida que temos
certeza que possuímos. A crença na justiça histórica é apenas uma
maneira racional de fantasiar um desejo mítico de eternidade. Mas,
quero fazer uma observação prática: a realização da vingança de outros,
como simples procuradores, talvez não seja um bom negócio e não se possa fazer dela um bom proveito.
Muitos dirão que, apesar de que Hitler e Mussolini tiveram má sorte,
esse não foi o caso de Margareth Thatcher nem do ditador Franco, e que
boa parte da Espanha e da Itália ainda apóia o fascismo e seus
similares, e parecem ter muito sucesso.

Mas, será realmente assim? Será que o triunfo de crueldade faz seus autores felizes?

Todos os anos, milhares de flores chegam ao túmulo de Bobby Sands e
dos outros 9 heróicos garotos que levaram até a morte sua greve de
forme em 1981, e não o fizeram para pedir liberdade, apenas para
manifestar seu desprezo por seus infames opressores. Seu carrasco, a
senhora Thatcher, só recebe os cumprimentos de subservientes
empresários que enriqueceram com a ruína de seu país. Os que já não
podem beneficiar‐se dela, se afastaram. Aliás, se o ódio compensa, eu
gostaria de saber: por que o racismo atravessa a Itália?

Por que os mesmos vândalos que exigem a cabeça de Battisti andam com
tochas ateando fogo em acampamentos de africanos, árabes e ciganos,
matando mulheres e crianças? Será que pessoas felizes precisam de
violência?

Não digo que esses atos deveriam parar por razões morais. Os que os
praticam não tem uma moral humanista: eles não acreditam na humanidade,
mas nos mitos, na raça, na linhagem, nas armas.

Mas, será que os massacres, a punição coletiva, a perseguição e o papel de

inquisidores medievais leva alguma felicidade a suas mentes doentias? Se não for assim, qual é

a vantagem desse ódio?

Não posso evitar pensar no famoso coronel de Carandiru. Ele
sentiu‐se muito feliz quando massacrou 111 pessoas indefesas, mas, será
que era feliz junto a sua namorada, que aplicou com ele a mesma
metodologia criminosa, a única que eles conhecem?

Não estou dizendo a ingenuidade de que “a vida se vinga” ou “o mal
acaba recebendo seu castigo”. A história mostra que isso não é verdade.
Esta é uma idéia antropomórfica, válida para os que acreditam num
destino personalizado. Há, porém, uma razão mais básica. A crueldade, a
vingança e o revanchismo tornam as pessoas doentes. Não é o castigo
divino; é o “castigo” de nossas próprias células.

Estatísticas feitas nos Estados Unidos, na França, durante a Guerra
de Argélia, e na Nicarágua, depois da libertação, mostram que
torturadores, carrascos, linchadores, têm o maior índice de problemas
em sua vida afetiva. Na Georgia, por cada 9 famílias de militares com
graves quadros de violência familiar, há apenas 2 famílias civis com os
mesmos problemas. Em Alabama, por cada mulher de civil que apanha de
seu marido, há 4,7 esposas de policiais que padecem desse problema.

Contrariamente às opiniões cheias de ódio, de sede de sangue e de
“vendettas”, há muitas pessoas que valorizam Battisti, sua integridade,
resistência e inteligência, sua qualidade de escritor, sua capacidade
de lutar durante 30 anos e estar disposto a morrer, em vez de tornar‐se
delator, “arrependido”, um lacaio da máfia peninsular.

Ele não estará sozinho em sua greve de fome, e não será possível
para nenhum tribunal extraditar para Itália todos os amigos de Battisti.

Excelência, sei que o VE está num nível cognitivo muito superior ao
de outras pessoas que se manifestaram contra Battisti. Sei reconhecer a
inteligência de alguém, mesmo quando nossos valores sejam opostos. Ouso
dizer que Vossa Excelência apreciou 100% da brilhante intervenção do
Ministro Marco Aurélio, e reconhece, sem dúvida, que naquela longa
argumentação não há uma palavra desnecessária, uma frase que não seja
precisa, uma verdade que não tenha sido exaustivamente provada.

O Ministro Marco Aurélio fez, como ninguém tinha feito, uma análise profunda da

Sentença 76/88, RG 49/84 da Corte d’Assise de Milano. Ele enumerou 34 provas de que Battisti

foi tratado como autor de crime político e acusado diretamente de subversivo (evversivo). Não acredito, mesmo sendo um outsider, que em direito absolutamente tudo seja assunto de opinião.

Não posso pensar que o VE acredite realmente que esses crimes foram
comuns. Nunca pensaria isso, porque seria insultar vossa inteligência,
e eu nunca cometeria essa impropriedade. Também tenho certeza de que o
VE sabe que a causa está prescrita. A prova dada pelo
Ministro Marco Aurélio é um verdadeiro teorema, que só pode nos
inspirar pena pelos que pretendem defender o parecer contrário.

Percebi que VE ouviu às poucas mas precisas ironias do Ministro
Marco Aurélio sobre o cinismo do governo italiano e seus xenófobos e
racistas partidários, ao descrever as 12 maiores injúrias que os mais
altos políticos fizeram da cultura e do povo brasileiro e até de seus
magistrados. Ele fez isso, olhando “olho no olho” no Embaixador
Italiano, que naquele momento abandonou a empáfia e fechou o rosto.

Sei que VE entendeu que o Ministro Marco Aurélio desmascarou os
interesses políticos e psicológicos (ressentimento, vingança,
propaganda, revanchismo) que nada têm de jurídico e se escondem detrás
de um julgamento feito com todas as violações possíveis aos Direitos
Humanos e ao devido processo. E que ele também ressaltou o idealismo
das gerações que lutaram contra a barbárie na década de 70, sem se
importar que os vândalos usassem farda ou se vestissem à paisana.

Seria impossível duvidar de que VE ouviu a um dos maiores magistrados da atualidade falar da ditadura do judiciário, algo que conduzirá à catástrofe não apenas da instituição do refúgio, mas de toda a democracia.

Tampouco VE ignora muitos fatos que, embora não tenham sido narrados
no dia 12, são de absoluta evidência: Que o governo da Itália se
utiliza da organização DSSA para sequestrar refugiados no exterior, que
o ministro italiano Clemente Mastella disse aos parentes das vítimas
que não cumpriria sua promessa feita ao Brasil de limitar a prisão de Battisti aos 30 anos, que Battisti morreria na Itália pelas mãos de seus algozes e, portanto, que a declaração de greve de fome de Battisti é a evidência de que prefere uma morte digna por sua própria mão.

Em fim, Senhor Presidente: Vossa Excelência sabe que o Ministro Marco Aurélio está certo,
e hoje há milhares de pessoas que sabem disso. Não o conheço e não
posso julgar se os Direitos Humanos e a Justiça são importantes ou não
para Vossa Excelência.

Mas, caso o sejam, VE tem uma excelente oportunidade de cumprir com esses direitos e honrar a justiça:

Admita o empate e outorgue ao réu o benefício da dúvida!

Atenciosamente

Carlos Alberto Lungarzo

Matrícula de Anistia Internacional (USA) 21525711

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*Convocatória Internacional de Ação Climática**

traduzido de: http://nevertrustacop.org/ e publicado em 
http://tinyurl.com/y9sloyo
Para somar com este texto
(http://www.ecoblogue.net/index.php?option=com_content&task=view&id=4054&Itemid=41 
<http://www.ecoblogue.net/index.php?option=com_content&task=view&id=4054&Itemid=41>)
É uma boa reflexão sobre o andamento da COP 15. 
*Convocatória Internacional de Ação Climática**
/* de: nevertrustacop <http://nevertrustacop.org/> / via a.n.a./
A catástrofe é real e a mudança climática é um dos seus vários sintomas. 
O slogan inevitável da COP 15, "evitar a crise climática global", é um 
elaborado embuste para ocultar o verdadeiro propósito da reunião de 
cúpula: restaurar a legitimidade do capitalismo global, através da 
instituição da era do capitalismo "verde". A nova retórica do "para 
evitar a mudança climática" justificará a repressão, as fronteiras 
fortificadas, as guerras coloniais pelos recursos naturais. É preciso 
vestir o Imperador com novas roupas. Nossa resposta a esta mentira é um 
NÃO firme e absoluto.
Será preciso mudar muito mais do que os nossos simples hábitos em tempo 
de ócio para sustentar o mundo nos tempos futuros. Seria muita tolice 
depositar as nossas esperanças nos mesmos que continuam a destruir o 
planeta por dinheiro. Em Copenhague, eles irão discutir como transformar 
a a biosfera em mercadoria para continuar a poluir, despejando milhões 
de pessoas de suas terras para extrair os lucros do que resta em nosso 
planeta. Governos e corporações não irão sacrificar seu crescimento para 
reduzir as emissões de carbono ou só aceitarão as reduções para criar um 
novo regime autoritário para si mesmos.
A retórica da "crise climática" e da "crise financeira" é uma manobra 
cínica dos administradores do Estado para negar a crise geral da 
auto-declarada civilização. A COP 15 será apenas uma tentativa de 
esconder a guerra que o capitalismo está travando contra todas as formas 
de vida no planeta. Uma guerra que se espalhou pelo planeta ao longo dos 
últimos 500 anos, atingindo inclusive os oceanos e a atmosfera.
No meio da guerra, não há tempo para falar de "gestão" ou de "soluções 
técnicas". Não se pode lutar em uma guerra fingindo que a guerra não 
existe, permanecendo cego à repressão e se tornando cúmplice ao aceitar 
a falsa promessa de uma tranquilidade pequeno burguesa. Ao contrário, 
deve-se reconhecer o inimigo, definir uma posição e lutar.
Somente livrando-nos daqueles que dizem nos representar e derrotando a 
ideologia do crescimento econômico, da produção industrial e do consumo 
infinitos podemos assumir o controle de nossas vidas e do planeta.
É hora de declarar: atacaremos minuciosamente as estruturas que apóiam a 
COP 15. Irromperemos nas fileiras da sua polícia, recusaremos negociar 
com os governos beligerantes e os meios de comunicação "anexados" a 
estes; nos negaremos a acompanhar ONGs vendidas e todos os "gerentes de 
protesto", rechaçaremos todos os governos e todas formas de decisões 
governamentais, não apenas os atuais governos.
É a hora de dizer por que pensamos que a insurgência é necessária para 
começar realmente a mudança pelas quais estamos tão desesperados. 
Através de um esforço conjunto em oposição contra os detentores do 
poder, podemos começar a enxergar a riqueza e as possibilidades 
existentes quando idéias, experiências e conceitos são compartilhados 
por pessoas de todas as partes do mundo.
Às brigadas internacionais!
É guerra social, não caos climático!
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